CNC diverge da criação do Sistema S de tecnologia da informação

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CNC diverge da criação do Sistema S de tecnologia da informação

Por CNC em 27/06/2019

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) participou, em 27/06, da audiência pública para debater o Projeto de Lei nº 10.762/2018, que cria o Serviço Social e o Serviço de Aprendizagem da Tecnologia da Informação e Comunicação (SeTIC), na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados. Além dos técnicos do Sistema Comércio, estavam presentes os vice-presidentes Financeiro, Leandro Domingos Pinto, e Administrativo, Luiz Gastão Bittencourt.

O gerente de Desenvolvimento do Senac São Paulo, Roland Anton Zottele, mostrou aos deputados e participantes da audiência a plataforma de inovação e tecnologia na qual o Senac prepara, desenvolve e capacita profissionais. “Temos centros específicos para desenvolver esse trabalho, não só neles, mas em todas as quase 600 escolas em todo o País e por meio da rede nacional de educação a distância (EAD), que nos permite chegar em todos os cantos do Brasil”, afirmou.

Zottele explicou que essa plataforma de trabalho não é uma construção exclusiva do Senac. “Na verdade, ela vem sendo erguida nas últimas décadas junto com todo o setor produtivo. Isso significa que consideramos como obrigação nossa, na modelagem das soluções educacionais, envolver as empresas que contratarão esses profissionais”, enfatizou.

Outro aspecto importante, na avaliação do gerente do Senac, é que a descentralização dos “Ss” – como se pretende com a criação do Setic – aponta para a criação de uma nova estrutura que, na prática, o Sistema Comércio já tem e oferece, muitas vezes gratuitamente. “Então, por que reinventar algo novo se o mais importante é fortalecer ainda mais essa plataforma de educação profissional já consagrada, como é a do Senac?”, questionou.

Para Zottele, a criação de um “S” para o segmento de tecnologia da informação tirará recursos do foco do Senac, que é a formação profissional. “Hoje, investimos todos os nossos recursos nesse objetivo, enquanto o que se pretende com esse projeto de lei é instituir uma nova estrutura, que incluirá elevados custos de administração e criação de escolas”, alertou.

“Nós levamos muitas décadas para consolidar o portfólio que oferecemos hoje à sociedade. Nossa percepção é que uma iniciativa semelhante, partindo do zero, como a que se está pretendendo, quando estiver consolidada – e neste momento não podemos garantir que isso realmente ocorrerá – quem está agora sendo assistido pelo Senac vai deixar de ser assistido.”

Qualidade de vida

Já Ana Marcia Varela, assessora de Relações Institucionais do Departamento Nacional do Sesc, falou sobre as ações da entidade. “O Sesc tem uma preocupação primordial: a qualidade de vida do trabalhador e esse conceito tem o aval das empresas”, disse ela citando pesquisa recente a qual indicou que 43% dos dirigentes empresariais acreditam que os programas sociais e de bem-estar fortalecem a missão e a visão das organizações e 60% entendem que ajudam a manter funcionários.

Por isso, a seu ver, é importante ter claro que, tanto quanto capacitar, é preciso saber reter profissionais. Hoje, segundo Ana Marcia, o mercado brasileiro perde muitos trabalhadores na área de tecnologia e inovação para empresas estrangeiras, que oferecem boas práticas de qualidade de vida.

“Se o empregado não tem boa qualidade vida, isso certamente tem impacto na produtividade, no absenteísmo, o que, evidentemente, não contribui para o desenvolvimento de qualquer setor”, justificou.

Ana Marcia esclareceu que o conceito de qualidade de vida trabalha questões subjetivas, mas também objetivas, na medida em que atende necessidades reais das pessoas, que precisam de cuidados, de uma boa alimentação, de um bom convívio social. “O Sesc e o Senac, há mais de 70 anos, entenderam a importância de que, para desenvolver melhor um setor produtivo, é preciso cuidar melhor das pessoas, tanto do ponto de vista da qualificação, como com programas sociais”, argumentou a assessora.

Ela destacou que o Sesc, que tem mais de seis milhões de clientes, se preocupa, além do foco em empresários e trabalhadores na área do comércio de bens, serviços e turismo, em oferecer serviços e atividades abertas, com iniciativas que favorecem o desenvolvimento de comunidades. Além disso, atende aos dependentes e familiares, entendendo que o convívio das famílias é importante para o crescimento pessoal.

Entre as centenas de ações do Sesc, Ana Marcia citou o programa de segurança alimentar, reconhecido mundialmente. Boa parte das iniciativas, lembrou, são realizadas de forma gratuita.

Finalmente, ela ponderou que, à medida que se planejam novos “Ss”, estão sendo criados novos custos administrativos. “Numa confederação como a CNC, que reúne vários setores, esses custos são compartilhados, ou seja, se consegue fazer mais com menos. Fazer o que já é oferecido hoje por Sesc e Senac para os trabalhadores de tecnologia da informação, com a limitação de recursos só desse setor, provavelmente não será suficiente para gerar o que a gente já faz, nem no longo prazo”, concluiu.

Criação de estrutura

O vice-presidente Luiz Gastão Bittencourt foi mais incisivo. Para ele, será preciso, no mínimo, 10 anos para criar uma estrutura que atenda o próprio público de tecnologia da informação e comunicação (TIC). “Hoje, os trabalhadores desse setor já têm acesso ao Senac e ao Sesc”, disse em entrevista ao site Convergência Digital, especializado na área de TIC.

“Embora comprometa parte da nossa arrecadação, afetaria principalmente os empregados em telecomunicações, que deixarão de ter acesso aos benefícios que já oferecemos. Já temos tecnologia da informação em nosso portfólio e isso pode ser aprimorado. Portanto, no lugar de criar um novo sistema, podemos absorvê-lo no já existente”, finalizou Luiz Gastão.

Participantes

Participaram também da audiência o diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, José Gustavo Gontijo; o diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, Rafael Esmeraldo Lucchesi; o vice-presidente da Confederação Nacional de Serviços, Luigi Nesse; o presidente da Confederação Nacional da Tecnologia da Informação e Comunicação, Edgar Serrano; o vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Informática, Rafael Sebben; e o presidente executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal, Eduardo Levy.